sexta-feira, 30 de abril de 2010

Programa 6: Cantilena

Era comum em Búzios ouvir o barulho da enxó batendo em troncos de árvores para construir canoas caiçaras. Os mestres canoeiros, artesões que fabricam as embarcações típicas caiçaras, existiam por toda parte. Hoje, esse tipo de ofício é raro e encontrar um mestre canoeiro, mais ainda.

Por ser uma área de proteção integral, desde a criação do Parque Estadual de Ilhabela, em 1977, é proibido derrubar árvores que seriam a matéria prima das canoas.

Ao impedir que os moradores de Búzios pratiquem hábitos tradicionais, a legislação alterou a cultura caiçara.

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Programa 5: Balanceia, meu bem...


Um dos hábitos caiçaras que vem se perdendo com os anos é a celebração das festas nas comunidades. As folias eram feitas em homenagem aos santos católicos.

A celebração de festas religiosas nas comundades caiçaras de Ilhabela são cada vez mais raras, diferente do que acontecia no passado, quando as folias em homenagens aos santos ocupavam quase todo calendário dos buzianos. Apesar de seguirem a religião católica, os caiçaras nunca tiveram o hábito de freqüentar igrejas e só demonstravam sua fé durante as festas.

Os bailes duravam a noite toda e eram animados por instrumentos tradicionais como a viola branca e a rabeca, uma espécie de violino artesanal. Com eles, os caiçaras brincavam o quebra chiquinha, a ciranda, o pau de fita e o saravalha.

Quando a lavoura perdeu espaço para a pesca, o hábito de celebrar santos se enfraqueceu. Além disso, com a chegada da igreja evangélica em Búzios há mais de 30 anos, a maioria dos caiçaras se converteu e a nova religião que não permite celebrar os santos.

Para tentar preservar a cultura caiçara, uma das estratégias é ensinar o conteúdo acadêmico nas escolas das comunidades tradicionais a partir de elementos típicos da cultura caiçara, seguindo o método proposto pela Secretaria de Educação do município.

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Programa 4: "Lá era Deus que olhava..."



Os buzianos moram em casas feitas de alvenaria e pau a pique. Ao todos são 64 casas na Ilha de Búzios. Nenhuma delas possui sistema de saneamento básico ou energia elétrica. A água é escassa e retirada de pequenos cursos d água, poços e até mesmo da chuva. Também não existe nenhum tipo de comércio ou serviço de saúde na ilha.

Desde 2001, a prefeitura de Ilhabela, em parceira com o Programa Saúde da Família, faz visitas médicas periódicas às comunidades caiçaras.

Na falta de médico, os buzianianos mais antigos recorriam a tratamentos populares. Clarice Opruzina de Jesus, de 88 anos, foi parteira na ilha. Ela aprendeu o ofício com a sua mãe, que, por sua vez, aprendeu com a avó de Clarice.

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Programa 3: Cerco



Entre os caiçaras de Búzios a história é parecida: aprenderam a pescar ainda crianças, sabem montar rede, conhecem as calmarias para navegar e observam que hoje já não existe tanto peixe como no passado. É da pesca que vem o termo “caiçara”, palavra do tupi que significa armadilha para peixes ou palhoça para guardar apetrechos de pescadores.

Em Búzios se pesca de anzol, de rede e cerco, uma armadilha oriental para os peixes. Até 1960, a agricultura era a principal fonte de renda dos caiçaras de Ilhabela. Hoje, a pesca é a a base econômica da comunidade.

Há mais de 10 anos que a venda do camarão compensa mais que a do peixe, pois dá em maior quantidade e o ano todo. Por ser encontrado próximo ao continente, longe, portanto, de Búzios, muitos moradores da ilha migraram para outras praias ou para centros urbanizados. O principal destino é o bairro de São Francisco, em São Sebastião. Lá funciona uma cooperativa de pesca com 79 cooperados, incluindo moradores e ex-moradores de Búzios. Ao todo, são 10 embarcações da ilha que descarregam peixe, em média, a cada cinco dias.

Deixar a Ilha de Búzios para viver em um centro urbanizado obriga os caiçaras a adotarem novos hábitos, que vão contra o modo de vida tradicional.

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Programa 2: Tipiti


É comum que os caiçaras sejam associados a homens e mulheres do mar. Apesar dessa característica os diferenciar de outras comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas, os caiçaras tiveram a pesca e outras atividades ligadas ao mar como secundárias. Durante muitos anos, a principal atividade de subsistência deles foi a agricultura.

Um dos motivos da pesca ter tido papel secundário é que nem sempre garantia uma boa alimentação aos caiçaras. Mas, nos últimos cinquenta anos, com o crescimento das cidades e queda de preço dos produtos agrícolas, as roças perderam espaço e hoje, os ilhéus têm que comprar quase todos os mantimentos nas cidades do continente, como São Sebastião e Caraguatatuba.

O que ainda resta da cultura agrícola em Búzios é a produção de farinha de mandioca que cada vez mais é feita para uso próprio.

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Programa 1: Buzianos, caiçaras, brasileiros...



Até a chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil, o município-arquipélago de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, era habitado por índios. Com a ocupação européia, Ilhabela tornou-se ponto de comércio de escravos. Dessa miscigenação indígena e européia, somada à influência africana, nasce a cultura caiçara.

O arquipélago abriga 17 núcleos de comunidades tradicionais caiçaras fora da área urbana. Três desses núcleos estão na Ilha de Búzios, onde, em 2008, viviam 55 famílias, divididas nas comunidades de Porto do Meio, Guanxumas e Pitangueiras.

Desde a criação do Parque Estadual de Ilhabela, em 1977, boa parte do arquipélago tornou-se área de proteção integral, o que restringiu o modo de vida caiçara, já que não foram criadas políticas para amenizar o impacto das leis sobre as comunidades.

Em fevereiro de 2007, foi instituída, por meio de decreto, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, que reconhece os caiçaras como povos tradicionais e prevê solucionar os conflitos existentes nas Unidades de Conservação.

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Nosso projeto





Em 2008, nossa missão, como estudantes de jornalismo da PUC-SP era entregar um TCC. O que para muitos é um martírio, para nós foi uma experiência incrívelmente enriquecedora. Elaboraros um rádiodocumentário de aproximadamente 1 hora sobre a Ilha de Búzios, uma das ilhas do arquipélago de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. Nosso projeto é dividido em seis programas temáticos de aproximadamente 10 minutos cada. Neles, fizemos um resgate da história da Ilha de Búzios, como as mudanças econômicas vividas desde a década de 1940, além de relatarmos como essa comunidade vive hoje. Abordamos os principais aspectos do cotidiano dos caiçaras dessa ilha, como: alimentação, saúde, trabalho, educação, religião e costumes. Com isso, pretendemos contar como eles viviam e como vivem atualmente.

Nosso radiodocumentário tem o objetivo de registrar o modo de vida ilhéu, por meio de histórias e experiências contadas por moradores da Ilha de Búzios, que fazem parte da tradição caiçara. Escolhemos o rádio como nosso mídia pois acreditamos que respeitar a oralidade característica desses povos era uma obrigação. Os programas têm a intenção de resgatar costumes antigos e de contar como e porque alguns hábitos tradicionais perderam espaço ou sofreram alterações no cotidiano dos buzianos.
Nossos programas de rádio contaram com o apoio técnico de Ernesto Foschi e Ronaldo Barbosa. As músicas utilizadas são de Luis Perequê, Cintia Ferrero e do Grupo Raízes de Ilhabela.